UNRIC associa-se ao Festival Boil para debater alterações climáticas através da arte e do humor 

O mote do BOIL é “Sem drama, mas com urgência”.

Festival irá abordar a emergência climática “sem drama, mas com urgência” recorrendo ao humor e a instalações artísticas na Fundação Serralves e outros espaços culturais, na Cidade do Porto. A ONU Portugal falou com a promotora do Boil Fest, Graça Fonseca, para perceber como surgiu a ideia deste festival e quais são os seus principais objetivos.  

 

ONU Portugal: Como é que surge o Boil Climate Festival?  

Graça Fonseca: O Boil surge da inquietação e constatação de que há décadas os cientistas climáticos nos alertam para o que está a acontecer no planeta, mas parece que não temos ouvido ou temos ouvido pouco – o aquecimento global, as suas causas, os seus efeitos e de que maneira o que está a acontecer afeta as nossas vidas, sendo que o ritmo da mudança é muito mais lento do que o necessário, face à aceleração do ritmo das alterações climáticas. São os próprios cientistas, a nível mundial, que nos dizem que precisamos de outras linguagens, de outras formas de olhar o mundo para nos ajudar a comunicar ciência climática. O Boil nasce daqui, nasce para responder à questão o que pode acontecer se à ciência juntarmos a arte e o humor, será que conseguimos envolver melhor e mais as pessoas no grande desafio que são as alterações climáticas?  

 

ONU Portugal: Como surgiu a ideia do nome Boil?? 

GF: Surge desta ideia de queremos desafiar as pessoas com um toque de humor. “Boil” significa que “estamos a ferver” e procurámos que esta ideia ficasse na cabeça das pessoas. A verdade também é que, há cerca de um ano, o secretário-geral das Unidas, António Guterres, declarou, perante meses consecutivos de recordes de temperatura, que a era do aquecimento global tinha acabado, tinha começado a era do “boiling” (fervendo). É esta a mensagem que temos mesmo que conseguir passar às pessoas, de que algo está a mudar muito rapidamente.  

 

ONU Portugal: Qual é o mote do Boil? 

GF: O mote do BOIL é “Sem drama, mas com urgência”. Vivemos um tempo de urgência, mas temos de o comunicar sem drama. O nosso cérebro é um processador de histórias, mais do que um processador de números. Quando alguém começa uma frase com 2050, o nosso cérebro já desligou; e quando nos dizem um número como 8 milhões de pessoas, o nosso cérebro também terá tendência a desconectar, eu sou só um, o que é que eu posso fazer? E, portanto, o que nós vamos procurar no Boil é contar histórias, a partir do que a ciência nos diz, comunicar factos cientificamente comprovados, mas fazê-lo sem drama, de uma forma bem-disposta, participativa, experiencial. Queremos gerar conexão, empatia, relação das pessoas com o significado e impactos das alterações climáticas na nossa vida. 

ONU Portugal: O BOIL vai testar alguma ideia para comunicar o que está a acontecer no Planeta?  

GF: Sim desde logo através de diálogos entre ciência, arte e humor. Mas também procurando transformar factos científicos em histórias, através de metáforas, por exemplo. Será que se utilizarmos uma metáfora para o aquecimento global vamos compreender melhor o que significa? Dando um exemplo, temos utilizado uma metáfora que é comparar o que é que nos acontece quando temos febre. Todos nós já tivemos febre, conhecemos o fenómeno de febre e sabemos o que acontece a partir de um determinado grau. Com febre, o nosso corpo também está a aquecer, e o planeta também está a aquecer. Nós temos reações e o planeta também. Esta forma de comunicar pode fazer com que as pessoas pensem de forma diferente e encorajar para a mudança de comportamento.  

 

ONU Portugal: Quais são as inquietações que estarão presentes nas talks que terão lugar durante o Boil??  

GF: As inquietações do Boil são as inquietações que, acreditamos, a maioria das pessoas tem. O desafio que lançámos aos cientistas, artistas e humoristas foi criar conversas que ajudem as pessoas a ajudar o planeta. Conversas que respondam às perguntas que inquietam as pessoas. Quando me falam na falta de água, quando vejo nas notícias que Portugal é um país que está em situação de stress hídrico. O que é que isso significa na minha vida? De que maneira é que eu posso usar melhor a água? Será que o meu contributo conta? Tem alguma relevância o que eu faça? E se tem, para que é que tem?  

Graça Fonseca, promotora do Boil explca que as BOIL Talks são um espaço para diálogos informais entre cientistas, artistas, humoristas, ativistas sobre temas que importam à vida quotidiana das pessoas.

ONU Portugal: Além das talks, haverá também uma série de outras atividades… 

GF: Sim, para envolver um público diversificado, o BOIL combina ciência, arte e humor ao longo dos dias, através de um percurso que combina instalações de arte, exposição, cinema, conversas, bem como uma silent disco que decorre em simultâneo com o Festival Serrralves em Luz, com direção criativa de Nuno Maya.  

Sistematizando, porque a programação é diversificada. O BOIL começa os dias com iniciativas para os mais novos, com instalações de arte e conversas participativas. Na manhã de dia 26 teremos também um fórum participativo organizado pela Comunidade Lidera, uma ONG portuguesa de jovens ativistas. Ao longo do dia, entre dias 25 e 29, o BOIL oferece aos visitantes um percurso de instalações artísticas criadas originalmente para o festival, da qual destaco “Boiling Point”, uma instalação de arte sobre a água e o seu uso, “Our Plastic Seas”, uma instalação de arte sobre o impacto dos plásticos nos oceanos, ambas da autoria de Chris Vincze and Artists & Engineers, e uma exposição do projeto “Critically Extant” by Entangled Others em diálogo com a coleção de insetos do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP) e o cientista José Manuel Grosso Silva. Temos ainda uma viagem interativa pela Amazónia, através do filme imersivo “Amazónia Viva” numa parceria com o Museu do Amanhã do Rio de Janeiro. Também ao longo do dia, entre 25 e 29 de setembro, O BOIL tem uma programação de cinema dedicado a temas climáticos, uma parceria com a Casa Cinema Manoel Oliveira e a National Geographic.  

As BOIL Talks decorrem nos dias 25 e 26 de setembro, a partir das 15.30h. São um espaço para diálogos informais entre cientistas, artistas, humoristas, ativistas sobre temas que importam à vida quotidiana das pessoas, como “O que está a acontecer no Planeta?”, “Alimentar”, “Construir”, “Turismo”, “Arte e Ciência pelo Planeta”, “Mobilidade”, “Ativismo e Arte”, “O que está a acontecer nos Oceanos?”, “Comunicar Ciência”, “Biodiversidade”, “Água”, “Energia”, “Moda”, “Influenciar”, “Humor e Clima”.  Entre os nomes confirmados estão Joana Barrios, Sara Prata, João Manzarra, Hugo Van Der Ding, Nuno Artur Silva, Selma Uamusse, Capicua, os cientistas Pedro Matos Soares, Júlia Seixas, Marta Marques, Carlos Fiolhais, David Marçal, Helena Freitas, os arquitetos Rita Gomes (Seenergy) e João Machado (Oitoo), os Chefs João Rodrigues e Márcio Baltasar, Luís Araújo (especialista em turismo), Gonçalo Alves (Areias do Seixo), José Gomes Mendes (especialista em mobilidade), e os coletivos Comunidade Lidera e Hard Art (este último, um coletivo de artistas, cientistas e ativistas liderado pelo músico e ativista climático Brian Eno). 

Dias 25 e 26 vamos terminar o dia e começar a noite a dançar numa silent disco nos jardins de Serralves, ao som de Djs e no cenário do Festival Serralves em Luz. 

 

ONU Portugal: O que as pessoas podem fazer hoje para ter um futuro mais sustentável?  

GF: Penso que começa por termos uma relação diferente com o que nos rodeia, com a natureza, com outras espécies que encontramos no nosso dia-a-dia e por um respeito pelo que nos rodeia, os oceanos, a biodiversidade, os recursos que usamos. Uma consciência de ligação e de conexão com o planeta, com o que é importante para a nossa vida, com a necessidade de respeitamos os limites do mundo em que vivemos. Ouvir mais os cientistas e procurar entender o que está a acontecer, porque está a acontecer, o que temos a ver com o que está a acontecer, quais os impactos na nossa vida e na vida das gerações seguintes. E a partir daqui, com mais conexão, mais conhecimento, maior empatia, ir mudando o modo como nos relacionamos com os recursos que o planeta nos dá.  

 

ONU Portugal: A sua expetativa em relação ao futuro é positiva? 

GF: Eu sou uma otimista e, por isso, acredito que trazer arte e humor para falar sobre alterações climáticas pode ser uma boa receita. As pessoas vão sentir de forma cada mais presente e intensa o impacto das alterações climáticas. Porque o tempo muda, porque, de repente, temos uma onda de calor e, no dia a seguir, temos chuvas torrenciais, porque estamos sempre a ouvir sobre se há ou não há falta de água. As pessoas vão sentir, cada vez mais, o que está a acontecer. E o facto de sentirmos, de experienciarmos mudanças na nossa vida, faz com que procuremos mais informação, com que queiramos perceber melhor e contribuir através de mudanças. Na nossa comunidade, no nosso prédio, na nossa vida. Eu acredito muito no poder das pessoas, que as pessoas são agentes de mudança. Sei que nem sempre vemos mudanças positivas, mas continuo a acreditar que as pessoas podem fazer a mudança para um Planeta mais sustentável.   

Consulte a programação do Boil aqui.