Um terço das mulheres nos países em desenvolvimento dão à luz na adolescência

© UNICEF/Patricia Willocq

Os dados são do novo relatório publicado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) que, além de alertar para o facto de quase um terço das mulheres nos países em desenvolvimento começarem a ter filhos antes dos 19 anos, quase metade dos primeiros filhos dessas raparigas acontecem quando estas têm 17 anos ou ainda menos. 

Embora a fertilidade no mundo tenha diminuído, o documento do UNFPA mostra que as mulheres que começaram a ter filhos na adolescência chegaram aos 40 anos com mais de cinco filhos. O período de análise do relatório vai de 2015 a 2019. 

A desigualdade de género e de rendimentos são as causas apontadas para explicar a gravidez na adolescência. Esta situação leva ao aumento do número de casamentos precoces, o que faz com que as jovens desistam da escola e não obtenham informação sobre saúde e relações sexuais seguras e consensuais. 

A esta realidade também não são alheios cenários de conflito, pandemias como a da covid-19 e desastres naturais, que deixam milhões de adolescentes numa situação ainda mais vulnerável.

“O mundo está a falhar” 

“Quando quase um terço de todas as mulheres nos países em desenvolvimento estão a tornar-se mães durante a adolescência, é evidente que o mundo está a falhar com as raparigas”, considerou a diretora executiva do UNFPA, Natalia Kanem. “As gravidezes sucessivas que vemos entre as mães adolescentes são um sinal gritante de que precisam desesperadamente de informação e serviços de saúde sexual e reprodutiva”. 

Entre o número de raparigas que têm o seu primeiro filho com 14 anos ou menos, quase três quartos engravidam uma segunda vez também na adolescência e 40% das que têm dois filhos, têm um terceiro ainda antes de deixarem essa fase da vida. 

Em 54 países em desenvolvimento, é de casamentos ou de uniões que surgem a maior parte destes nascimentos. 

Apesar de mais de metade dessas gravidezes terem sido consideradas “planeadas”, a capacidade das jovens para decidirem se querem ter filhos pode estar limitada. O relatório conclui que a gravidez adolescente é frequentemente – embora nem sempre – impulsionada por uma falta de escolha informada ou mesmo por força ou coerção.   

© UNFPA/Thalefang Charles

Violações de direitos humanos 

As complicações no parto são uma das principais causas de morte de raparigas adolescentes. Além disso, ser mãe adolescente pode levar a violações dos direitos humanos e ter consequências sociais causadas por situações de casamento infantil, violência entre parceiros íntimos e problemas de saúde mental. 

Apesar de a agência da ONU registar um declínio dos níveis de maternidade na infância e adolescência, o ritmo de declínio tem sido “alarmantemente lento”, cerca de 3% a cada dez anos. 

“Os governos precisam de investir nas adolescentes e ajudar a expandir as suas oportunidades, recursos e competências, ajudando a evitar gravidezes precoces e não intencionais”, explicou a diretora executiva do UNFPA. “Quando as raparigas puderem traçar o seu próprio curso de vida, a maternidade na infância tornar-se-á cada vez mais rara”. 

Recomendações 

O relatório apresenta recomendações para decisores políticos, incluindo a necessidade de proporcionar às adolescentes uma educação sexual abrangente bem como a importância da mentoria, apoio social e serviços de saúde de qualidade. 

Para além disso, o documento apela também às famílias para que prestem um maior apoio económico e envolvam as organizações locais, no âmbito de uma política de apoio e enquadramento legal que reconheça os direitos, capacidades e necessidades das adolescentes, em particular, das raparigas adolescentes marginalizadas.