Trabalho infantil afeta 160 milhões de crianças – o primeiro aumento em duas décadas

Children and mothers at the mines site of Pissy, a suburban of Ouagadougou, the capital of Burkina Faso. UNICEF, thanks to funding from several National Committees, is working with an implementing partner, “Terre des Hommes Lausanne”, to withdraw and educate children aged 3 to 12 and place young people aged 14 to 17 in training. According to a survey carried out by the “Terre des hommes Lausanne Foundation” in 2008-2009, there were six hundred and seventy-five (675) children on this Pissy site. The age of child laborers is between 5 and 17 years old, but there are many babies and toddlers present next to their working mothers. For every child, protection.

A Organização Internacional do Trabalho e a UNICEF advertem para um aumento de 9 milhões de crianças em risco de exploração devido à covid-19.

O número de vítimas de trabalho infantil aumentou para 160 milhões em todo o mundo, um aumento de 8,4 milhões de crianças nos últimos 4 anos, com outros milhões em risco de exploração devido aos impactos da covid-19, de acordo com um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da UNICEF.

O relatório “Trabalho Infantil: estimativas globais 2020, tendências e o caminho a seguir” – divulga em antecipação do Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, 12 de junho – que os esforços para erradicar o trabalho infantil estagnaram pela primeira vez em 20 anos, revertendo a tendência decrescente que resultou numa diminuição de 94 milhões de crianças exploradas entre 2000 e 2016.

O relatório evidencia um aumento significativo do número de crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 11 anos numa situação de trabalho infantil, o que representa pouco mais de metade do total mundial. O número de crianças dos 5 aos 17 anos envolvidas em trabalhos perigosos – definidos como trabalhos suscetíveis de prejudicar a sua saúde, segurança ou bem-estar psicológico – aumentou 6,5 milhões desde 2016, afetando hoje 79 milhões.

“As novas estimativas são um sinal de alarme. Não podemos ficar sem fazer nada enquanto uma nova geração de crianças é posta em risco”, declarou o diretor-geral da OIT, Guy Ryder. “A proteção social inclusiva permite que as famílias mantenham as suas crianças na escola, mesmo enfrentando dificuldades económicas. É essencial um maior investimento no desenvolvimento rural e trabalho digno na agricultura. Estamos num momento crucial em que a nossa resposta a esta crise fará toda a diferença. Chegou o momento de renovar o nosso compromisso para virar a página e quebrar o ciclo da pobreza e do trabalho infantil”.

Na África Subsaariana o crescimento demográfico, as crises recorrentes, a pobreza extrema e medidas inadequadas de proteção social, conduziram a um aumento de 16,6 milhões de crianças em situação de trabalho infantil nos últimos quatro anos.

Mesmo em regiões onde se têm registado alguns progressos desde 2016, em particular na Ásia e Pacífico e na América Latina e Caraíbas, a covid-19 constitui uma ameaça a este progresso.

O relatório alerta para como, a nível mundial, há mais 9 milhões de crianças em risco de serem forçadas a trabalhar até ao final de 2022, devido à pandemia. Uma simulação mostra que este número pode aumentar para 46 milhões se estas crianças não tiverem acesso a proteção social.

“Estamos a perder terreno na luta contra o trabalho infantil, e o último ano não veio facilitar esta luta”, referiu a diretora executiva da UNICEF, Henrietta Fore. “Agora, já no segundo ano de confinamento global, de encerramento de escolas, de perturbações económicas e de contração dos orçamentos nacionais, as famílias vêem-se compelidas a fazer escolhas dilacerantes. Apelamos aos governos e aos bancos internacionais de desenvolvimento para darem prioridade aos investimentos em programas que permitam que as crianças deixem de trabalhar e regressem à escola, e em programas de proteção social que contribuam para que as famílias não necessitem de fazer esta escolha”.

Outras conclusões importantes do relatório:

– O setor da agricultura detém 70% das crianças vítimas de trabalho infantil (112 milhões) seguido por 20% nos serviços (31,4 milhões) e 10% na indústria (16,5 milhões).

– Cerca de 28% das crianças dos 5 aos 11 anos e 35% das crianças dos 12 aos 14 anos de idade em situação de trabalho infantil não vão à escola.

– O trabalho infantil é mais comum entre meninos do que meninas em as classes etárias. Quando se contabilizam as tarefas domésticas realizadas durante pelo menos 21 horas por semana, a diferença entre meninos e meninas diminui.

– A prevalência do trabalho infantil nas zonas rurais (14%) é quase três vezes superior à das zonas urbanas (5%).

As vítimas de trabalho infantil estão muitas vezes sujeitas a abusos físicos e psicológicos. O trabalho infantil compromete a educação das crianças, restringe os seus direitos e limita as suas oportunidades e conduz a ciclos viciosos de pobreza intergeracionais e de trabalho infantil.

Para inverter esta tendência ascendente, a OIT e a UNICEF apelam a:

– Uma proteção social adequada para todas as pessoas, incluindo prestações universais para as crianças.

– Um aumento das despesas com educação de qualidade e com o regresso de todas as crianças à escola – incluindo aquelas que não recebiam uma educação mesmo antes da pandemia.

– A promoção do trabalho digno para as pessoas adultas, para que as famílias não necessitem de recorrer ao trabalho infantil para obterem o rendimento familiar necessário.

– Pôr fim às normas de género nocivas e à discriminação que influenciam o trabalho infantil.

– Investimento em sistemas de proteção infantil, desenvolvimento agrícola, serviços públicos em meios rurais, infraestruturas e meios de subsistência.

No âmbito do Ano Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil, a parceria Global Alliance 8.7, da qual a UNICEF e a OIT são parte, está a encorajar os Estados-membros, as empresas, os sindicatos, a sociedade civil, e as organizações regionais e internacionais a redobrarem os seus esforços na luta global contra o trabalho infantil, fazendo promessas concretas de ação.

Durante esta semana de ação, de 10 a 17 de junho, o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, e a diretora executiva da UNICEF, Henrietta Fore, juntar-se-ão a outras personalidades e militantes dos direitos da juventude num evento de alto nível durante a Conferência Internacional do Trabalho para discutir o lançamento das novas estimativas globais e o caminho a seguir.

A OIT-Lisboa e o Secretariado Executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (SECPLP) assinalam este ano dez anos (2011-2021) de parceria na promoção do combate ao trabalho infantil. Na reunião de Ministros do Trabalho e dos Assuntos Sociais da CPLP, que teve lugar a 30 de março deste ano, foi aprovado um plano de ação da CPLP para o combate ao trabalho infantil.