A Somália depende de produtos agrícolas da Rússia e da Ucrânia, sendo diretamente impactada pelo conflito entre as nações.
Milhares de famílias enfrentam uma situação de fome na Somália e mais de 213 mil somalis correm risco de morrer por desnutrição aguda. Com quatro temporadas de seca, insegurança, efeitos da guerra na Ucrânia, crise climática e as consequências económicas da pandemia, o país enfrenta uma crise sem precedentes.
A Somália prepara-se para a quinta temporada consecutiva sem chuvas, entre outubro e dezembro. Cerca de 7,8 milhões de pessoas afetadas pela seca, ou metade da população, precisam de assistência humanitária para sobreviver.
O subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência, Martin Griffiths, classifica a situação como uma “catástrofe humanitária”, anunciando que o Programa Alimentar Mundial (PAM) está a ajudar a Somália a um nível sem precedentes.
Apesar de, até agora, a ajuda do PAM ter chegado a 3,7 milhões de pessoas, 300.000 com apoio nutricional, a fome é uma realidade iminente. Este número representa o dobro do número de pessoas assistidas pela agência em abril e o PAM pretende reforçar o apoio a 4,5 milhões nos próximos meses.
A última crise alimentar na Somália, em 2011-2012, matou mais de 250 mil pessoas, e embora a escala da assistência humanitária seja agora muito maior do que era então, as necessidades também aumentaram.
“Tenho ficado chocado com o nível de dor e de sofrimento que vemos tantos somalis a suportar”, expressou Martin Griffiths, ao descrever a cidade de Baidoa como o “epicentro da crise humanitária”, onde as crianças estão tão desnutridas que mal conseguem falar.
“Muito poucas crianças conseguiam chorar. E, como percebemos quando saímos, tivemos a sorte de ouvir uma criança chorar. Foi-nos dito que quando uma criança chora, há hipótese de sobrevivência. As crianças que não choram são aquelas com que temos de nos preocupar”, explicou o chefe da Ajuda Humanitária da ONU. Crianças com desnutrição aguda grave ficam mais vulneráveis a doenças como cólera, pneumonia, malária e sarampo. Este ano, pelo menos 730 crianças morreram em centros de nutrição no país.
Cerca de 6,4 milhões de pessoas na Somália não têm acesso a água potável e a saneamento, o que as torna também mais vulneráveis a surtos de doenças. Este ano, os casos de suspeita de diarreia aquosa aguda e de cólera mais do que duplicaram. No ano passado, os casos suspeitos de sarampo quadruplicaram, afetando cerca de 13 mil pessoas. Mulheres e meninas caminham distâncias maiores para encontrarem água e abrigo, o que aumenta a exposição à violência de género.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, OCHA, pede o apoio da comunidade internacional à população da Somália. Num mundo cada vez mais rico e generoso, o OCHA considera que nenhum país deveria passar fome e que nenhuma criança deve morrer à fome.
As doações ajudam as Nações Unidas e parceiros humanitários a continuarem a fornecer alimentos, água potável, serviços de saúde e outras assistências vitais para pessoas necessitadas. Pode contribuir através do website do Fundo Humanitário da Somália.