A desaceleração económica associada à pandemia não foi capaz de travar as alterações climáticas ou desacelerar os seus impactos. Segundo o novo relatório relativo ao Estado Global do Clima 2020, este foi um dos três anos mais quentes de sempre. A temperatura média global subiu cerca de 1,2 °C acima do nível pré-industrial (1850-1900). A publicação da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e parceiros demonstra que 2011-2020 foi a década mais quente alguma vez registada, os últimos seis anos foram os mais quentes de sempre.
O relatório alerta para a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, o aumento da temperatura terrestre e oceânica, a subida do nível do mar, o desgelo e recuo dos glaciares e uma propensão para condições meteorológicas extremas. Destaca, ainda, os impactos negativos destas alterações climáticas, em conjuntura com a pandemia da covid-19, no desenvolvimento socioeconómico, na migração e deslocamento, na segurança alimentar e nos ecossistemas terrestres e marinhos.
A covid-19 adicionou uma nova dimensão aos perigos associados às alterações climáticas, com um enorme impacto na saúde e bem-estar humano. As restrições à mobilidade, crises económicas e interrupções no setor agrícola, exacerbaram os efeitos dos eventos climáticos e meteorológicos extremos ao longo de toda a cadeia de abastecimento alimentar, elevando os níveis de insegurança alimentar e retardando a entrega de ajuda humanitária. A pandemia interrompeu ainda as observações meteorológicas e dificultou os esforços de alerta e prevenção de desastres.
A publicação da OMM explica como as alterações climáticas representam uma ameaça ao cumprimento de muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o que poderá contribuir para reforçar ou agravar as desigualdades já existentes.
De acordo com o secretário-geral da ONU, António Guterres, “Este relatório mostra que não temos tempo a perder. O clima está a mudar e as consequências já são em demasia para as pessoas e para o planeta. Este é o ano para a ação. Os estados precisam se comprometer-se a emissões zero até 2050. Precisam de apresentar planos climáticos nacionais ambiciosos para reduzir coletivamente em 45%, em comparação com os níveis de 2010, as emissões globais até 2030. Precisam de agir agora para proteger as pessoas contra os efeitos desastrosos das alterações climáticas”.