Quase 87 milhões de crianças com menos de sete anos não conhecem outra realidade para além do conflito

FOTO: UNICEF/UN02517/Schermbrucker

Cerca de 86,7 milhões de crianças com menos de sete anos de idade passaram as suas vidas em zonas de conflito, colocando o desenvolvimento do seu cérebro em risco, disse, hoje, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Durante os primeiros sete anos de vida, o cérebro de uma criança tem potencial para ativar mil células cerebrais a cada segundo, sublinha a UNICEF. Cada uma dessas células, conhecidas como neurónios, tem o poder de se conectar com outros dez mil neurónios, milhares de vezes por segundo. As conexões cerebrais servem como blocos de construção do futuro de uma criança, definindo a sua saúde, bem-estar emocional e a capacidade de aprender.

As crianças que vivem em conflito estão frequentemente expostas a traumas extremos, que as colocam em risco de vida e num estado de stress tóxico, uma condição que inibe as conexões das células do cérebro – com consequências significativas, a longo prazo, ao nível do seu desenvolvimento cognitivo, social e psicológico.

“Além das ameaças físicas imediatas que estas crianças enfrentam, também correm o risco de sofrer com cicatrizes emocionais profundas”, disse Pia Britto, chefe da UNICEF para o Desenvolvimento da Primeira Infância.

Dados da UNICEF mostram que, globalmente, uma em cada 11 crianças com idade superior a seis anos cresceu numa zona de conflito no período mais crítico para o desenvolvimento do cérebro.

“O conflito rouba às crianças segurança, família e amigos, jogo e rotina. Estes elementos são fundamentais na infância porque dão às crianças as condições para se desenvolverem de forma harmoniosa e aprenderem com aproveitamento, dando-hes as condições para mais tarde contribuirem para as suas economias e sociedades e construirem comunidades fortes e seguras quando chegarem à fase adulta”, diz Brito.

“É por estas razões que é preciso investir mais para proporcionar às crianças e seus cuidadores os serviços críticos, incluindo materiais de aprendizagem, apoio psicossocial e espaços seguros, amigos da criança, que podem ajudar a restaurar um sentido de infância no meio do conflito”, acrescentou.

De acordo com a UNICEF, uma criança nasce com 253 milhões de neurónios a funcionar, mas a possibilidade do cérebro atingir a sua capacidade adulta com mil milhões de neurónios conectáveis depende, em grande parte, do desenvolvimento da primeira infância. Isso inclui o aleitamento materno e a nutrição, estimulação precoce pelos cuidadores, oportunidades de aprendizagem precoce e uma oportunidade para crescer e brincar num ambiente seguro e saudável.

Como parte da sua resposta às emergências humanitárias e crises prolongadas, a UNICEF sublinha que tem trabalhado para manter as crianças em ambientes seguros, providenciando pacotes de emergência  com materiais de aprendizagem e jogos. Isto permitiu apoiar, só no ano passado, mais de 800 mil crianças que vivem em contextos de emergência.

24 de março de 2016, Centro de Notícias da ONU/Traduzido & Editado por UNRIC