As alterações climáticas bateram novamente recordes em terra, no mar e no ar em 2021.
As concentrações de gases de estufa, o nível do mar, as temperaturas dos oceanos e a acidificação dos oceanos todos alcançaram recordes mundiais em 2021, afirma o relatório sobre a Situação do Clima da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Este relatório é “um sinal claro de que as atividades humanas estão a causar alterações à escala global na terra, oceanos e atmosfera, e danos a longo prazo nos ecossistemas e no desenvolvimento sustentável”, declara a OMM.
Para além de causarem temperaturas elevadas e danificarem os nossos oceanos, as alterações climáticas também levaram à perda de milhares de milhões de dólares, custaram vidas humanas, deslocaram mais de 2.5 milhões de pessoas e comprometeram a segurança alimentar e o acesso à água potável em 2021. O relatório da OMM confirma que os últimos sete anos foram os mais quentes alguma vez registados e o diretor da organização avisa que “é só uma questão de tempo até testemunharmos outro ano mais quente do que alguma vez registado”.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou que estes dados são “uma confirmação sombria do fracasso da humanidade em resolver o problema das perturbações climáticas”. António Guterres disse também numa mensagem de vídeo divulgada após a publicação do relatório que as suas conclusões são um apelo à ação para a transição para as energias renováveis. “Está na hora de pararmos de falar nas energias renováveis como um projeto distante e futuro”, defende.
Emergência climática
O documento complementa as conclusões do IPCC que recentemente lançou um relatório assustador que, de acordo com Guterres, inegavelmente demonstrou que vivemos atualmente uma “emergência climática”. Abaixo estão algumas das conclusões e dados preocupantes recolhidos pela OMM neste mais recente relatório:
Migração
As alterações climáticas continuam a causar um êxodo enorme de pessoas e até Outubro de 2022 mais de 1.4 milhões de pessoas na China, 386 mil nas Filipinas e 664 mil no Vietname foram deslocadas devido a incidentes como as cheias e as inundações.
Segurança Alimentar
As crises intercaladas do conflito violento, das temperaturas extremas, da pandemia da covid-19 e dos choques económicos levaram a um número crescente de países e pessoas que enfrentam a fome extrema. Cerca de 418 milhões de pessoas na Ásia e 282 milhões de pessoas no continente africano estão subnutridas.
Secas e inundações
América do Sul, Canadá, EUA, Irão, Afeganistão, Turquia – todos estes países foram afetados pela seca em 2021. Adicionalmente nos países no leste de África, como a Etiópia, o Quénia, e a Somália, não choveu pela 4º estação consecutiva.
As inundações causaram perdas económicas de 1.7 mil milhões de dólares na província de Henan, na China, e perdas de 20 mil milhões na Alemanha.
Ondas de calor
As ondas de calor ultrapassaram os recordes previamente estabelecidos na América do Norte e no Mediterrâneo. Na Califórnia atingiu-se uma temperatura recorde de 54.4 °C e em Itália atingiram-se os 48.8 °C graus. No Canadá, 500 pessoas faleceram devido aos fogos florestais.
Ecossistemas
Os ecossistemas – incluindo ecossistemas terrestres, de água doce, costeiros e marinhos – e os serviços que estes fornecem, estão a ser afetados pelas alterações climáticas, embora de forma desigual. Alguns estão a ser degradados a um ritmo sem precedentes. Os ecossistemas de montanha – as torres de água do mundo – são profundamente afetados. Os recifes de coral são particularmente vulneráveis às alterações climáticas. E entre 20 e 90% das atuais zonas húmidas costeiras estão em risco de desaparecer até ao final deste século o que comprometerá ainda mais indústrias como o turismo.
Gases com efeito de estufa
As concentrações de gases com efeito de estufa atingiram um novo máximo global em 2020, quando a concentração de dióxido de carbono (CO2) atingiu 413,2 partes por milhão (ppm) a nível global, ou 149% do nível pré-industrial.
Temperatura global
A temperatura média anual global em 2021 era cerca de 1,11 (±0,13) graus acima da média pré-industrial de 1850-1900.
Cinco passos para a transição energética
O secretário-geral da ONU propôs cinco passos críticos para iniciar a transição para as energias renováveis. Para assegurarmos o nosso futuro temos de:
- Criar uma coligação mundial promovendo a transição para as energias renováveis, removendo “obstáculos à partilha de conhecimentos e à transferência tecnológica” e ultrapassar “a maior barreira à transição de energia limpa” do “armazenamento de eletricidade renovável”
- “Assegurar, aumentar e diversificar o fornecimento de componentes e matérias-primas críticas para as tecnologias de energias renováveis”
- “Construir estruturas, sistemas e organizações e reformar as burocracias para nivelar o campo de ação das energias renováveis.”
- “Desviar os subsídios dos combustíveis fósseis para proteger as pessoas e comunidades pobres e mais vulneráveis.”
- “Triplicar os investimentos privados e públicos em energias renováveis para pelo menos 4 triliões de dólares por ano.
Guterres defendeu que “as energias renováveis são o único caminho para uma verdadeira segurança energética, preços estáveis da eletricidade e oportunidades de emprego sustentável. Se agirmos em conjunto, a transformação das energias renováveis pode ser o projeto de paz do século XXI.”