O secretário-geral da ONU encontrou-se com pessoas deslocadas devido à subida do nível do mar e à erosão costeira e pediu às nações mais ricas que cumpram os seus compromissos para combater os efeitos das alterações climáticas nos países em desenvolvimento.
Durante uma visita a Samoa, o secretário-geral da ONU salientou que as nações insulares do Pacífico estão ameaçadas devido a fatores como a subida do nível do mar, as divisões e as tensões geopolíticas.
Para António Guterres, uma resposta eficaz a estas questões exige condições mais justas por parte dos financiadores internacionais para potenciar o desenvolvimento e “um enorme aumento” das contribuições dos maiores poluidores mundiais para fazer face ao “caos climático”.
Mais do que palavras
Os gestos positivos das nações ricas para com os países em desenvolvimento têm sido insuficientes para compensar os choques económicos provocados pelas catástrofes naturais causadas pelas alterações climáticas, insistiu o diplomata português, apontando para o Fundo de Perdas e Danos, acordado em 2022 na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) no Egito.
Os países desenvolvidos também se comprometeram, em 2021, a duplicar o financiamento da adaptação climática em relação aos 100 mil milhões de dólares por ano acordados em 2009, disse o secretário-geral, ao observar que este potencial fluxo de receitas revolucionário também não obteve apoio suficiente.
“Precisamos que todos os países honrem as suas promessas em matéria de financiamento do clima e que a COP deste ano produza resultados financeiros sólidos, onde serão discutidos os compromissos assumidos após 2025”, afirmou.
Muralha marítima em perigo
Em declarações aos jornalistas, o chefe da ONU descreveu como os habitantes de Samoa têm repetidamente resistido aos choques climáticos, incluindo o tsunami mortal de 2009 que causou pelo menos 192 mortos.
“Vimos pessoas que mudaram as suas casas para o interior. Vimos pessoas que não desistiram de regressar e reconstruir. Vimos uma enorme determinação das pessoas em lutar não só contra o impacto do tsunami, mas também contra o impacto da subida do nível do mar e das tempestades e ciclones”, afirmou.
“Vi um muro que está a proteger uma aldeia do mar; esse muro em 20 anos, devido ao tsunami, da subida do nível do mar e das fortes tempestades já foi reconstruído três vezes.”
Desigualdades financeiras
Muitos países em desenvolvimento, como Samoa, que também estão na linha da frente da crise climática, têm de recorrer a empréstimos de instituições de crédito internacionais a taxas mais elevadas do que as nações mais pobres do mundo, o que os impede efetivamente de aceder aos fundos de que necessitam para se ajudarem a si próprios.
Para fazer face a esta desigualdade estrutural histórica nas finanças internacionais, a ONU trabalhou com os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEID) numa nova medida do rendimento nacional, o Índice de Vulnerabilidade Multidimensional (IVM), para que também eles possam aceder ao financiamento significativo necessário para o desenvolvimento sustentável.
“Pedimos à comunidade internacional para que atue de forma a que, quando as instituições financeiras internacionais lidarem com países como Samoa, o Índice de Vulnerabilidade Multidimensional seja tido em consideração para permitir a concessão de financiamento em condições favoráveis aos projetos necessários para que este país atinja os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e proteja as suas populações contra as alterações climáticas”, afirmou António Guterres.
O secretário-geral reiterou também o seu desejo para se encontrarem soluções e novas fontes de rendimento tão cruciais para países como Samoa, que perderam receitas turísticas vitais devido à pandemia da COVID-19 e “não receberam o apoio da comunidade internacional”, continuou Guterres. “Quando olhamos para Samoa, compreendemos o que isso significa e nunca paramos de lutar para garantir que isso seja reconhecido pela comunidade internacional.”