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As Nações Unidas celebraram esta quinta-feira o primeiro Dia Internacional de Reflexão e Memória do Genocídio de 1995 em Srebrenica, honrando a memória dos 8.000 muçulmanos bósnios brutalmente assassinados pelo exército sérvio da Bósnia.
Este incidente foi o maior massacre na Europa desde o Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial.
Deixou marcas emocionais profundas nos sobreviventes, nas famílias das vítimas e na sociedade da Bósnia e Herzegovina, na sequência das guerras e da limpeza étnica que marcaram o colapso da antiga Jugoslávia, que teve início em 1992.
Entre as pessoas que testemunharam os terríveis acontecimentos em Srebrenica estava Kada Hotić, que perdeu o marido, o filho e cinquenta outros membros da família.
A “Mãe de Srebrenica” – membro do grupo de defesa que representa cerca de 6.000 sobreviventes, dedicou-se à construção de um novo futuro para a Bósnia-Herzegovina, onde as pessoas possam viver em paz, independentemente da sua etnia.
Educar as nossas crianças
Hotić esteve na sede da ONU, em Nova Iorque. Em declarações à ONU News, sublinhou a importância de comemorar o genocídio em Srebrenica e de refletir sobre o que aconteceu.
“Serve de aviso às gerações futuras para que não volte a acontecer a ninguém”, afirmou.
“As crianças aprendem a saber o que é o bem e o que é o mal, e que tipo de guerras sujas como estas trazem… não precisamos de guerras, devemos lutar pela vida e não pelo sofrimento na vida.”
Dia Internacional
A comemoração deste ano segue-se à nomeação formal, pela Assembleia Geral, do dia 11 de julho como Dia Internacional de Reflexão e Memória do Genocídio de 1995 em Srebrenica.
Em maio, a Assembleia Geral adotou uma resolução com o mesmo título – com 84 votos a favor, 19 contra e 68 abstenções – apelando aos Estados-membros para que preservassem os factos estabelecidos, nomeadamente através da educação, com o objetivo de evitar a negação, a distorção ou qualquer ocorrência futura de genocídio.
O texto da resolução foi classificado como “altamente politizado” pelo presidente da Sérvia, que afirmou que a resolução “abre uma caixa de Pandora”.
“Não se trata de reconciliação, não se trata de memórias, trata-se de algo que vai abrir uma ferida antiga e criar um total caos político. Não só na nossa região, mas também aqui, nesta sala”, afirmou.
O massacre de Srebrenica
O massacre de Srebrenica marcou um dos capítulos mais negros da guerra que deflagrou após a desintegração da antiga Jugoslávia.
Em julho de 1995, o exército sérvio da Bósnia invadiu Srebrenica – anteriormente declarado refúgio pelo Conselho de Segurança – e assassinou brutalmente milhares de homens e adolescentes, expulsando 20.000 pessoas da cidade.
Uma pequena unidade de forças de manutenção da paz holandesas, pouco armada e sob a bandeira da ONU, não conseguiu resistir às forças sérvias da Bósnia..
A matança brutal de muçulmanos bósnios em Srebrenica pelo exército da República Srpska foi reconhecida como um ato de genocídio pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ).
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Permanecer sempre vigilante
Durante o evento comemorativo de alto nível, o presidente da Assembleia Geral, Dennis Francis, sublinhou que “as lições de Srebrenica são claras”.
“A intolerância e o fanatismo, quando se permite que floresçam, culminam em atrocidades incompreensíveis”, sublinhou.
Devemos manter-nos sempre vigilantes e evitar a retórica que desumaniza, degrada e discrimina um determinado grupo (…) porque essa retórica está sempre enraizada no ódio e – se não for controlada – conduz sempre a um mal indescritível”, afirmou.
O presidente da Assembleia, Francisco, sublinhou também a relevância da comemoração, uma vez que a retórica da divisão é “mais ampla, mais ruidosa e mais profunda do que nunca”.
“Utilizemos este novo Dia Internacional para homenagear as pessoas que se perderam, educar as gerações [futuras], unir as comunidades e combater o ódio em todas as suas formas – repito – em todas as suas formas. Isto é essencial para garantir que todos – independentemente da raça, fé ou nacionalidade – se sintam seguros nas suas comunidades”.
O evento comemorativo foi organizado pela Missão Permanente da Bósnia e Herzegovina junto da ONU, com o co-patrocínio de cerca de 22 outras nações, incluindo o Ruanda.
Combater a negação
No evento, conselheira especial da ONU para a Prevenção do Genocídio, Alice Wairimu Nderitu, leu uma mensagem do secretário-geral António Guterres.
“Há 29 anos, as Nações Unidas e o mundo falharam com o povo de Srebrenica… hoje, honramos a memória das vítimas e somos solidários com os sobreviventes”, afirmou.
Nderitu sublinhou o apoio das Nações Unidas às famílias dos que morreram, nos seus esforços para procurar justiça e estabelecer a verdade, acrescentando que “temos de combater a negação e o revisionismo e de prosseguir os esforços para identificar todas as vítimas e responsabilizar todos os responsáveis”.
Sublinhou ainda que o genocídio em Srebrenica é um “testemunho angustiante” das consequências da inação face ao ódio.
“Temos de lutar contra a divisão e contra a intolerância, defender os direitos humanos e promover a compreensão mútua e a reconciliação”, afirmou.