Dia Mundial da Língua Portuguesa: relevância e desafios do multilinguismo

Discurso de abertura do ministro do governo da região de Bruxelas, responsável pela promoção do multilinguismo, Sven Gatz

Para assinalar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, declarado pela UNESCO em 2019, a Embaixada de Portugal na Bélgica e o Centro Regional das Nações Unidas para a Europa Ocidental (UNRIC) organizaram um seminário que abordou a relevância do multilinguismo e os seus múltiplos desafios, como o rápido desenvolvimento da inteligência artificial, e o papel da língua portuguesa na Bélgica, na Europa e no Mundo. O evento contou com um discurso de abertura do ministro do governo da região de Bruxelas, responsável pela promoção do multilinguismo, Sven Gatz, seguido por dois painéis de discussão. O primeiro com o tema “Multilinguismo na Europa: um trunfo para o futuro?” e o segundo acerca da “língua portuguesa na Bélgica, na Europa e no mundo”.

No seu discurso de abertura, o ministro do Governo da Região de Bruxelas mencionou que “o que nos une hoje aqui é o facto de acreditarmos no poder do multilinguismo”, principalmente numa cidade como Bruxelas, em que “o multilinguismo faz parte do seu ADN”.

O primeiro painel, moderado pela diretora adjunta do UNRIC, Caroline Petit, começou com uma intervenção por parte da perita em multilinguismo da Comissão Europeia, Anna Solé Mena, que afirmou que “os Estados-membros aspiram coletivamente a que os jovens saiam do ensino secundário a falar bem não só a língua utilizada na escola, mas também outras duas línguas adicionais”. “Este é o objetivo de toda a União Europeia” enfatizou. Pauline van der Straten Waillet, logopedista e professora na Universidade Livre de Bruxelas, explicou o fenómeno do multilinguismo nas crianças, e como estas adquirirem várias línguas ao estarem expostas às mesmas. No entanto, “exposição não é suficiente, um input linguístico rico é necessário, ou seja, quantidade e qualidade elevadas”. Por fim, o oficial de coordenação para a cultura da UNESCO em Bruxelas, Oriol Freixa Matalonga, acrescentou que “a nomeação deste dia pela UNESCO é um compromisso da humanidade para proteger a língua portuguesa, e é importante promover este dia nas nossas comunidades”. Os três painelistas reforçaram assim a importância do multilinguismo nas diferentes idades e a necessidade de garantir a sua proteção por parte dos Estados-membros.

Oficial de coordenação para a cultura da UNESCO em Bruxelas, Oriol Freixa Matalonga, diretora adjunta do UNRIC, Caroline Petit, logopedista e professora na Universidade Livre de Bruxelas, Pauline van der Straten Waillet e perita em multilinguismo da Comissão Europeia, Anna Solé Mena

O segundo painel contou com a moderação da docente do Instituto Camões Ana Corga Vieira que relembrou que, antes de ser reconhecida pela UNESCO, esta data já constava do calendário da CPLP. A docente começou por convidar o embaixador do Brasil, João Mendes Pereira, a comentar o carácter pluricêntrico da língua portuguesa, neste caso no seu país. O embaixador afirmou que “a língua portuguesa nos deu uma dimensão comum e permitiu-nos estar ligados durante séculos. E o mesmo se aplica à ligação com os nossos parceiros da CPLP”. António Branco, diretor geral da Infraestrutura de Investigação PORTULAN CLARIN para a Ciência e Tecnologia da Linguagem, abordou o futuro impacto da intermediação tecnológica no uso da língua portuguesa. “Há 30 anos que existe um congresso científico dedicado ao processo computacional da língua portuguesa” comentou, “e temos estado a fazer o nosso melhor para preparar a língua portuguesa para a era digital”. O diretor geral destacou também que, na sua opinião, “a Europa está a ficar para trás no domínio da inteligência artificial (AI) e temos de ser agentes ativos desta transformação da IA na utilização da língua”. Por último, o chefe da Divisão de Programação, Formação e Certificação Rui Azevedo afirmou que “o multilinguismo nos alunos portugueses está presente todos os dias nas salas de aula e tem várias vantagens, como a herança da identidade cultural, o bilinguismo, o desenvolvimento cognitivo e as vantagens académicas e profissionais”.

Docente do Instituto Camões Ana Corga Vieira, diretor geral da Infraestrutura de Investigação PORTULAN CLARIN para a Ciência e Tecnologia da Linguagem, António Branco e chefe da Divisão de Programação, Formação e Certificação Rui Azevedo

Para finalizar o seminário, o embaixador de Portugal junto da Bélgica, Jorge Cabral, partilhou um breve discurso de agradecimento onde sumarizou os assuntos debatidos nos painéis e salientou a ideia de que “o multilinguismo tem muitos efeitos benéficos e ter uma atitude positiva em relação a este fenómeno contribuirá para uma sociedade mais diversificada e tolerante”.