Na passada sexta-feira, António Guterres foi renomeado para um segundo mandato como secretário-geral das Nações Unidas, comprometendo-se a continuar a dar prioridade à ajuda mundial para ultrapassar a pandemia da covid-19.
Enquanto fazia o juramento de tomada posse na Assembleia Geral, o secretário-geral das Nações Unidas afirmou estar ciente da imensa responsabilidade que lhe foi conferida neste momento crítico da nossa história.
O mundo numa encruzilhada
“Estamos realmente numa encruzilhada, com escolhas importantes à nossa frente. Os paradigmas estão a mudar. As velhas ortodoxias estão a ser invertidas”, declarou aos embaixadores.
“Estamos a escrever a nossa própria história, agora, com as escolhas que fazemos. Tanto podemos escolher o colapso e uma crise perpétua ou a perspetiva de um futuro mais verde, mais seguro e melhor para todos. Há motivos para ter esperança.”
Guterres foi o único candidato dos 193 Estados-membros da ONU a disputar o cargo mais importante da organização. O seu primeiro mandato de cinco anos começou em janeiro de 2017.
O secretário-geral da ONU foi nomeado por Portugal e pela Assembleia Geral, após o apoio do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para um segundo mandato de janeiro de 2022 a dezembro de 2026.
Virar a página
Falando em inglês, francês e espanhol – três dos seis idiomas oficiais da ONU – Guterres constatou como a covid-19 tem destruído vidas e meios de subsistência, exacerbando ainda mais as desigualdades já existentes. Alertou ainda, como em simultâneo, as nações enfrentam os desafios das alterações climáticas e da perda de biodiversidade.
O secretário-geral afirmou que é crucial que a saída da pandemia, assim como a recuperação socioeconómica, ocorram em bases muito mais equitativas.
“O nosso maior desafio – que é, simultaneamente, a nossa maior oportunidade – é usar esta crise para virar a página para um mundo que aprende lições, promove uma recuperação justa, verde e sustentável através de uma internacionalização crescente e cooperação eficaz para a resolução de problemas globais”, declarou em francês.
Momento para a transformação
Com um caminho difícil pela frente, cheio de grandes desafios, o secretário-geral expressou confiança de que estes podem ser ultrapassados graças ao compromisso e dedicação dos funcionários da ONU. Enfatizou, ainda, a necessidade de contínua melhoraria através do aperfeiçoamento ao acesso e análise de dados e da redução da “burocracia desnecessária”.
Embora o mundo tenha mudado muito, as promessas da ONU permanecem constantes. Porém, os países precisam de trabalhar juntos de maneiras inteiramente novas para mantê-las vivas.
Guterres pediu que se aproveitasse este momento para a transformação. O secretário-geral da ONU enfatizou a necessidade de se ouvirem novas vozes na mesa de tomada de decisões, nomeadamente as da sociedade civil, do setor privado e da juventude.
Equidade no acesso à vacina
“Em última análise, essa transformação tem de originar mais solidariedade e equidade”, afirmou Guterres, desta vez em espanhol.
“A equidade precisa começar agora: as vacinas têm de estar disponíveis para todos, em todo o mundo. Devemos criar condições para uma recuperação sustentável e inclusiva tanto no mundo desenvolvido como em desenvolvimento. Ainda temos um longo caminho a percorrer.”
Guterres advertiu que os países devem superar seu atual “déficit de confiança” para que isso seja possível.
“Temos de fazer tudo o que pudermos para superar as atuais divisões geoestratégicas e relações disfuncionais de poder. Existem muitas assimetrias e paradoxos. Estas precisam de ser ultrapassadas”, aconselhou.
“Precisamos, ainda, de estar cientes de como o poder funciona, hoje, no mundo, quando se trata da distribuição de recursos e tecnologia.”
Promovendo confiança, inspirando esperança
António Guterres comprometeu-se a usar o seu segundo mandato para garantir “o florescimento da confiança entre as nações”.
O secretário-geral das Nações Unidas também procurará inspirar esperança na possibilidade de ultrapassar os desafios que enfrentamos, que o impossível se pode tornar possível.
“Não podemos desistir”, afirmou. “Isso não é idealista ou utópico, mas fundamentado no conhecimento histórico de como ocorreram as grandes transformações e orientado pela crença fundamental na bondade do ser humano. Ultrapassar os desafios é possível quando menos esperamos e contra todas as probabilidades. Esse é o meu compromisso.”