O sucesso da seleção nacional da República Democrática do Congo na Taça das Nações Africanas foi uma ocasião muito rara para a população do Congo se unir em alegria.
Os jogadores da seleção masculina protestaram antes da partida da semifinal, colocando a mão direita na frente da boca e dois dedos nas têmporas quando soou o hino nacional.
O protesto silencioso pretendia chamar a atenção para a situação na parte oriental do país, que foi devastada por conflitos armados. Em parte, foi também um protesto contra o silêncio e a indiferença internacional relativamente ao sofrimento da população.
O Conselho Norueguês para os Refugiados declarou, por duas vezes nesta década, que a situação na RD Congo é a crise de refugiados mais negligenciada do mundo.
Que crise é esta?
Os responsáveis humanitários da ONU manifestaram profunda preocupação com a escalada da crise humanitária na República Democrática do Congo (RDC), especialmente no Kivu do Norte. Os combates entre o exército congolês e o grupo armado M23 deslocaram pelo menos 130 mil pessoas em diferentes áreas do território Masisi nas primeiras semanas de 2024. Além disso, a RDC tem enfrentado as piores inundações das últimas décadas.
Qual é o pano de fundo do conflito?
A República Democrática do Congo é o segundo maior país de África e o 11º maior do mundo. Com 2,34 milhões de km2, ou seja 25 vezes a área de Portugal.
A região oriental, rica em minerais, tem sido atormentada por combates de pelo menos 122 grupos rebeldes e, em alguns casos, por exércitos invasores durante mais de 25 anos.
Desde 1996, o conflito no leste da RDC provocou aproximadamente seis milhões de mortes.
Que impacto tem?
A República Democrática do Congo tem o maior número de pessoas deslocadas internamente (PDI) no continente africano: 5,7 milhões de pessoas.
O país tem também o maior número de pessoas do mundo que sofrem de insegurança alimentar. Um em cada quatro congoleses – ou cerca de 26,4 milhões de pessoas – não consegue satisfazer as suas necessidades alimentares básicas e cerca de 6,4 milhões destes são afetados por subnutrição aguda, um número que não diminuiu em duas décadas.
Quatro mulheres morrem a cada hora durante o trabalho de parto ou devido a problemas relacionados com a gravidez. O país também tem uma das taxas de mortalidade infantil mais altas do mundo.
As águas das cheias destruíram ou danificaram recentemente 100.000 casas, 1.325 escolas, 267 instalações de saúde e grandes áreas de terrenos agrícolas, deixando cerca de dois milhões de pessoas, quase 60 por cento das quais crianças, a necessitar de assistência.
A somar a tudo isto, a cheias ocorreram num momento em que o país enfrentava um dos piores surtos de cólera dos últimos anos. A cólera é uma das epidemias mais graves mas evitáveis, que todos os anos causa um impacto significativo na vida humana devido a infraestruturas deficientes, restrições ao acesso à saúde e baixa cobertura vacinal.
Além do elevado número de pessoas deslocadas internamente, a RDC também acolhe mais de 500 mil refugiados de países vizinhos.
Resposta da ONU
As Nações Unidas na República Democrática do Congo consistem numa missão de manutenção da paz e 22 programas, fundos e agências especializadas que trabalham em conjunto para a estabilização e o desenvolvimento da RDC, ao mesmo tempo que prestam assistência humanitária aos mais necessitados.
A MONUSCO, a missão de manutenção da paz da ONU na RDC, foi criada em 1999. É a maior missão de manutenção da paz das Nações Unidas, com uma equipa de mais de 18.000 pessoas.
Mais de 25 milhões de pessoas na RDC qualificam-se como “pessoas necessitadas”, de acordo com o OCHA, o Gabinete de Coordenação para Assuntos Humanitários da ONU. Em 2023, 8,7 milhões de pessoas foram “alvo de assistência”. Estima-se que sejam necessários 2,6 mil milhões de dólares para assistência humanitária em 2024.
Em novembro de 2023, o Programa Alimentar Mundial (PAM) tinha ajudado 5,2 milhões de pessoas com alimentos, dinheiro, apoio à desnutrição e intervenções de resiliência em todo o país. No contexto da escalada do conflito, da segurança alimentar flutuante e da grave escassez de financiamento, o PAM está a rever o seu planeamento para satisfazer as necessidades crescentes.
Em resposta às cheias e aos surtos de cólera, a UNICEF está a fornecer água potável, kits de tratamento de água e produtos de saúde às zonas afetadas. Há também equipas de gestão da cólera apoiadas pela UNICEF no terreno.
Como pode ajudar?
Faça uma doação ao PMA na RDC aqui.
Faça uma odação à UNICEF na RDC aqui.
Para mais informações:
Veja a resolução do Conselho de Segurança da ONU aqui.
Saiba mais sobre o conflito aqui.
Para uma visão geral da resposta humanitária visite humanitarianaction.info